domingo, 24 de janeiro de 2010

Os gargalos, outra vez

Durou pouco o alívio que a crise mundial trouxe para um sério problema que limita a competitividade da economia brasileira. Com a retomada do crescimento, antigas deficiências de infraestrutura voltam a assombrar o setor produtivo. Por falta de investimentos adequados, o Brasil tem carências em setores como energia elétrica, portos, aeroportos, estradas, ferrovias e saneamento, que afetarão o desempenho da economia neste ano.
Alguns indicadores da atividade econômica, entre os quais vendas de caminhões, consumo de diesel e movimento nas estradas, já atingiram o nível registrado antes do início da crise, como mostrou reportagem de Renée Pereira publicada no Estado do dia 1º, e tendem a se elevar. Mas a infraestrutura disponível, insuficiente para atender à demanda antes do início da crise, não foi ampliada.
O Brasil perdeu tempo, deixando de investir em áreas essenciais para a economia. O governo Lula tem anunciado a ampliação das aplicações em infraestrutura, sobretudo através do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), mas os resultados práticos desse programa são limitadíssimos. Dos países que compõem o Bric, o Brasil é o que tem a pior oferta de infraestrutura, de acordo com alguns estudos.
Uma das principais preocupações do empresariado está na área de transportes. Estima-se que na safra 2009/2010 a produção de grãos aumentará 5,5 milhões de toneladas em relação à safra anterior. Só para transportar esse excedente por estradas seriam necessários 160 mil caminhões. O aumento das vendas de caminhões nos últimos meses indica que o transporte da maior parte da produção adicional será feita por rodovia.
As ferrovias não alcançam algumas áreas produtoras. Como observou o vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil, José Augusto de Castro, embora responda por 26% da produção nacional de soja, o Estado de Mato Grosso conta apenas com alguns "míseros" quilômetros de ferrovia na divisa com Goiás. Essa carência acaba determinando o transporte de praticamente toda a produção estadual por rodovia, visto que as hidrovias têm baixa capacidade.
Mas as estradas estão em mau estado. Há alguns meses, o presidente da Confederação Nacional do Transporte, Clésio Andrade, observou que a capacidade de muitas estradas federais chegou ao limite e a duplicação delas tornou-se urgente ? isso sem considerar que 69% das rodovias continuam em estado regular, ruim ou péssimo, e as frotas de veículos têm idade média de 10 a 20 anos, o que aumenta os riscos e os custos do transporte. Andrade estima que, para sustentar o crescimento econômico previsto para este ano, o País precisaria ter pelo menos mais 4 mil quilômetros de estradas duplicadas. Mas não há nenhum plano para a expansão e a melhoria da malha rodoviária nacional nessas proporções.
A malha ferroviária, de sua parte, tem dimensões limitadas, e o transporte do complexo minero-siderúrgico representa mais de 80% do volume transportado por ferrovia. Apesar das mudanças administrativas por que passa, o sistema portuário continua tendo eficiência muito baixa. Persistem na maioria dos portos problemas como a falta de dragagem, que permitiria a operação de navios com maior capacidade de operação, e dificuldade de acesso terrestre integrado, por meio de ferrovias e rodovias.
"Se não houver um planejamento logístico, novamente vamos ver aquelas terríveis filas de caminhões nas rodovias", advertiu o presidente da Associação Brasileira dos Terminais Portuários, Willen Manteli.
Já o diretor da Confederação Nacional da Agricultura, Luiz Fayet, observa que houve uma mudança geográfica no agronegócio que não foi acompanhada pela infraestrutura de transportes. Os maiores produtores estão nas Regiões Norte e Centro-Oeste e o escoamento natural de sua produção deveria ser pelo Norte. Mas os portos dessa região não estão equipados para atender à demanda, o que empurra a produção para os portos do Sul e do Sudeste, elevando custos. Esses problemas aflorarão com intensidade nos próximos Meses.
FONTE: O Estado de São Paulo

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