sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Safra menor, mas ainda grande

A queda de 2,4% na estimativa da produção nacional de grãos na safra 2011/2012 em relação à safra anterior, prevista no terceiro levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), não é necessariamente uma notícia ruim. Obviamente, melhor seria se a previsão fosse de novo crescimento da safra agrícola.

De qualquer maneira a produção de grãos será muito alta e comprovará, mais uma vez, os resultados da profunda transformação pela qual passou a atividade rural no Brasil nas últimas décadas.

Graças aos investimentos, que permitiram o emprego cada vez mais intenso de novos métodos de gestão e de novas técnicas, a agricultura brasileira alcançou ganhos de produtividade e de qualidade que a tornaram uma das mais competitivas do mundo.

Oscilações de produção, produtividade ou de área cultivada entre uma safra e outra são naturais - pois a atividade rural é sujeita às variações do clima e as decisões de plantio são influenciadas pelas flutuações do mercado mundial. Além disso, as quedas previstas nos levantamentos da Conab não configuram uma tendência da atividade rural no País.

De acordo com os resultados apurados até agora pela Conab, a produtividade deverá cair, pois, mesmo com o aumento de 1,1% da área de plantio (de 49,92 milhões de hectares para 50,45 milhões de hectares), a produção diminuirá 2,4% (de 162,96 milhões de toneladas para 159,08 milhões de toneladas). Mas esta é uma conclusão provisória.

A pesquisa mais recente foi realizada entre os dias 21 e 25 de novembro por cerca de 60 técnicos da Conab, que visitaram órgãos públicos e instituições privadas ligados à produção agrícola em todos os Estados.

Naquele período, como ressaltou o relatório da Conab, "o plantio estava em andamento, prevalecendo o estágio de desenvolvimento vegetativo". Por isso, para o cálculo da produtividade, adotou-se como critério a média dos últimos cinco anos (descartados os resultados atípicos), à qual se adicionou o ganho tecnológico. Só nas próximas pesquisas de campo, quando se terá uma noção mais correta da produção, será possível aferir com mais precisão a produtividade.

As culturas mais representativas, de soja e de milho, somam 83% da produção nacional de grãos, mas suas perspectivas para a safra 2011/2012 são bem diferentes.

No fim do mês passado, a área plantada com soja no Centro-Sul do País já alcançava 92% da área reservada pelos agricultores para essa cultura e, no Norte-Nordeste, 65%. A safra estimada pela Conab é de 71,29 milhões de toneladas, uma redução de 5,4% em relação à safra anterior.

O milho responderá por boa parte do aumento da área de plantio. Bons preços do produto e a necessidade de rotação de culturas estão entre os fatores que levaram os agricultores a plantar mais milho nesta safra.

A produção, de acordo com os resultados da primeira safra, pode crescer até 4%. Já as áreas reservadas para o arroz e o feijão da primeira safra deverão diminuir.

Com base nos resultados do último levantamento, a Conab prevê a redução de estoques de arroz em casca, feijão, soja em grão e trigo no final da safra. Mesmo que a redução se confirme, não se preveem problemas de abastecimento nem de pressões excessivas sobre os preços dos alimentos.

O mercado internacional continua muito pressionado pela crise financeira e fiscal dos países industrializados, mas os fatores clássicos de formação de preços de alguns dos principais produtos de exportação do Brasil, como a soja, continuam ativos.

Há um descompasso entre a oferta e demanda mundial de soja, que pode resultar em redução dos estoques mundiais. Isso pode conter a queda da cotação do produto observada nos últimos meses.

A eficiência da agricultura continua a ser desafiada pelos conhecidos fatores que afetam a produtividade global da economia brasileira, especialmente a precariedade da infraestrutura, que dificulta e encarece o escoamento da safra. A despeito desses fatores altamente adversos, a produção e a produtividade continuam altas.
FONTE: O Estado de São Paulo - SP

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Dados da logística no Brasil

Uma das maiores críticas dos varejistas brasileiros em relação à infra-estrutura do País está ligada à logística. E embora ela demande grandes investimentos, pouco se sabe sobre as principais práticas logísticas existentes no País. A pesquisa mais recente sobre o assunto é de 2010, realizada pelo Instituto de Engenharia de Gestão (IEG) e ouviu cerca de 100 executivos de mais de 70 empresas brasileiras pertencentes a nove setores. Apesar de já ter um ano, vale a pena destrinchar suas descobertas, dada a relevância do tema.

Em média, os custos logísticos representam 8% do faturamento bruto das empresas e apresentam a seguinte distribuição: Transporte (50%), Estoques (22%), Armazenagem (14%), Administrativo (10%) e Outros (3%). “A maneira correta de atuar de forma competitiva é buscar melhorias contínuas junto a todos os elementos desta cadeia, de forma a reduzir custos, melhorar a qualidade dos produtos e o nível de serviço para os clientes finais”, explica Vanessa Saavedra, engenheira e sócia do IEG.

A pesquisa constatou ainda a deficiência de opções modais no Brasil. A maior parte do transporte de produtos industriais ainda é executada pelo modal rodoviário (78%). No entanto, 62% das empresas pesquisadas possuem iniciativas de intermodalidade. Ao considerar as empresas que não buscam outros modais complementares, a participação do modal rodoviário sobe para 85%, e restringindo o grupo de empresas que buscam intermodalidade, o uso do modal rodoviário na distribuição cai para 73% na média.

Especificamente em relação ao transporte rodoviário de cargas (TRC), os executivos das empresas pesquisadas indicaram que a prioridade é a redução de custos (67%), seguido de melhoria no gerenciamento de terceiros (27%). Para tentar melhorar a eficiência no TRC, as empresas vêm buscando, em sua maioria, sistemas de otimização de fluxos (59%) e rastreamento por satélite (58%).

A pesquisa revelou que apesar de muito se falar em parceria, poucas são as empresas que a coloca em prática. Quando perguntadas qual o grau de importância nas tendências relacionadas à gestão de fornecedores, as empresas atribuíram grande importância ao estabelecimento de relacionamentos de confiança (72%) e ao envolvimento de seus fornecedores com os propósitos gerais da empresa (61%). Em contrapartida, as empresas não estão dispostas a compartilhar informações com seus fornecedores, caracterizando o relacionamento como uma prestação de serviço simplesmente. Apenas 48% das organizações possuem relacionamentos que podem ser considerados de parceria. “A troca de informações é considerada um fator crítico para o sucesso dos relacionamentos logísticos. Entretanto, os executivos das grandes empresas brasileiras indicaram que o compartilhamento de informações ainda é a menor prioridade no que tange ao relacionamento com seus fornecedores”, destaca Vanessa.

O levantamento também analisou as razões pelas quais as corporações decidem terceirizar. A busca por menor custo do serviço foi, por muito tempo, o aspecto principal e único envolvido nesta decisão. No entanto, o processo de terceirização das atividades logísticas, como realizado atualmente, é resultado de uma nova configuração das relações na cadeia de suprimentos, onde 86% das grandes empresas utilizam prestadores de serviços logísticos. “Muitas razões levam as organizações a buscarem soluções externas para atividades que antes eram realizadas por elas próprias, mas o custo não é mais o único motivo expressivo”, explica a engenheira.

A pesquisa constatou que os principais motivos que levam à terceirização são redução de custos (26% de empresas) e foco no core business (20% das empresas). De forma geral, as atividades logísticas mais terceirizadas pelas empresas brasileiras são: Transporte de Carga Fechada (83%), Transporte de Carga Fracionada (77%) e Desembaraço Aduaneiro (70%), ou seja, atividades bastante operacionais, mas que exigem uma boa escala de atendimento. Questões mais estratégicas como a gestão da cadeia de suprimentos e o e-commerce são as menos terceirizadas pelas organizações.

O IEG constatou ainda que as tendências na terceirização não vão se alterar a curto prazo: as mesmas atividades terceirizadas hoje, são aquelas que mais serão terceirizadas no futuro. No entanto, a atividade com indicações de que mais aumentará a terceirização no futuro será a gestão integrada das operações logísticas, que possui um papel extremamente estratégico nas organizações.
FONTE: Portal No Varejo