quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Perspectiva 2011: Desenvolver agronegócio exige investimentos em infraestrutura e logística

Desenvolver mais o agronegócio brasileiro exige investimentos em infraestrutura e logística. Apenas com redução de custos e condições para escoar e armazenar a safra, o produto nacional conseguirá se tornar mais competitivo.
- Um quarto das nossas rodovias apresenta sérias dificuldades em termos de qualidade de oferta de segurança para os usuários. Dos problemas decorrentes dessa precariedade de infraestrutura, estão: a maior facilitação a roubo de carga, maior número de acidentes, o excesso de consumo de combustível. Tudo isso gera reflexo negativo para o setor de transporte - diz o diretor-executivo da Confederação Nacional do Transporte (CNT), Bruno Batista.
O governo reconhece os problemas relatados pela CNT, que já avaliou 91 mil quilômetros de rodovias no país. A instituição sabe onde estão as piores estradas.
- Elas estão especialmente na região amazônica, no Acre, no Amazonas, Pará, no Maranhão. Já conseguimos um bom índice de recuperação em algumas regiões de Rondônia. São rodovias que passaram muitos anos sem ser feito qualquer tipo de investimento, praticamente largadas à sorte - diz o diretor-geral do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), Luiz Antônio Pagot.
Ironicamente, as estradas são o principal meio de circulação, por elas passam 60% das mercadorias transportadas no Brasil.
- Hoje o Brasil transporta quase que a totalidade de sua produção agrícola por caminhões e isso em algumas situações não é o meio de transporte mais vantajoso, nem economicamente, nem em termos de segurança. Isso faz com que haja uma depreciação muitas vezes mais rápida da própria infraestrutura rodoviária devido ao excesso de caminhões de carga que trafegam por uma rodovia que às vezes não foi planejada para receber aquela demanda - diz Batista.

As consequências são produtos agrícolas mais caros.

- Para sair da porteira da fazenda e chegar até um porto de exportação, os americanos e argentinos gastam R$ 6 a menos por saco de soja. Nós poderíamos, se tivéssemos os mesmos custos, dar mais R$ 6 por saco para os produtores rurais - explica o consultor em logística da Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Luiz Antônio Fayet.
A promessa do governo, no entanto, é melhorar todas as estradas federais até 2015. O investimento necessário é de R$ 14 bilhões.
- Com isso, nós vamos lenta e gradualmente fazer toda a reestruturação da malha rodoviária nacional - avalia Pagot.
O problema é que os gargalos também estão na armazenagem. A estocagem disponível para os grãos no Brasil é de 130 milhões de toneladas. Só que a safra prevista é de 149 milhões de toneladas.
Esse cenário é raro nas fazendas brasileiras. Quando o produtor rural tem condições de fazer seu próprio silo, seu próprio armazém fica bem mais fácil decidir a hora certa de ofertar esse produto para o mercado.
O produtor rural Derci Censi pode esperar a hora certa para negociar o milho. Em junho, a saca valia R$ 14, mas ele vendeu em novembro a R$ 24,50.
- Os armazéns, os silos como a gente chama para guardar o próprio produto da gente mesmo, têm essa vantagem. Não tem quebra técnica, não tem custo de armazenagem e também aguarda um preço melhor para vender - diz Censi.
- Eu acho que o armazém-fazenda é uma solução. Nos Estados Unidos, 52% da capacidade de armazenagem é do produtor. O produtor tem uma armazém que ele colhe, vende parte da usa produção para pagar seus custos ali necessários e ele guarda a sua produção dentro do armazém e vai gradativamente comercializando esse produto pelos 12 meses restantes - diz o superintendente de Ofertas da Conab, Carlos Eduardo Tavares.
As dificuldades de logística não param por aí. A iniciativa privada estima que o setor portuário necessita de US$ 30 bilhões em investimentos. As ferrovias, que atualmente transportam apenas 13% dos grãos, precisam ser ampliadas.
- O Brasil opera muito pouco em termos de movimentação de grãos. Essa é uma situação que a longo prazo deveria mudar. Isso favoreceria a competitividade dos nossos produtos agrícolas no Exterior - completa Batista.
FONTE: Canal Rural

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Transportes dará ênfase a ferrovias e hidrovias

As estradas brasileiras, que hoje respondem por 70% do escoamento da produção nacional, continuarão a protagonizar a malha logística do país, mas perderão cada vez mais espaço com o crescimento dos modais ferroviário e hidroviário. A inversão na matriz logística nacional será a principal busca do Ministério dos Transportes, afirmou o senador Alfredo Nascimento (PR-AM), que assumiu o ministério no sábado, substituindo Paulo Sérgio Passos. Na pauta ferroviária inclui-se a realização do leilão do trem-bala entre São Paulo e Rio, marcado para abril. Segundo Nascimento, a licitação está mantida.
Questionado sobre seu retorno aos Transportes, Nascimento afirmou que "não gostaria de ter voltado", já que esta será a terceira vez que ele cuidará da pasta, mas comentou que seu nome "foi consenso" dentro do partido, além de ter sido aceito pelo governo. "Eu represento o meu partido no governo."
Durante a solenidade de posse, o ex-ministro Paulo Passos, que foi secretário-executivo de Nascimento e ficou à frente do Ministério por nove meses, elogiou o aumento dos investimentos feitos pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva, que passaram de R$ 1,5 bilhão por ano em 2000 para R$ 16,5 bilhões em 2010. Passos comentou ainda que no início da década de 2000 a malha rodoviária se encontrava degradada e incapaz de atender a demanda.
Alfredo Nascimento afirmou que Passos "é um ótimo administrador", mas disse que não chegou a conversar com o ex-ministro sobre a possibilidade de ele permanecer nos Transportes. Nascimento também descartou a criação de novas secretarias e garantiu que boa parte da equipe atual deverá ser mantida.
"Vamos trabalhar para mudar o cenário logístico do país. Infelizmente o modal de transporte brasileiro não é o correto. Não se privilegiou o investimento em ferrovias e hidrovias, mas apenas em rodovias", disse o ministro, após a solenidade.
"Recuperamos 90% da malha rodoviária do país, mas já começamos a investir em ferrovias e vamos aproveitar melhor os rios. Vamos concluir a ferrovia Norte-Sul no primeiro semestre deste ano e a Transnordestina em 2012."
Durante seu discurso, Nascimento exaltou a presidente Dilma Rousseff como a maior executiva que já conheceu em seus 30 anos de vida pública e disse estar satisfeito com o orçamento garantido para o ministério. Em 2004, comentou, foram disponibilizados somente R$ 2,4 bilhões para a pasta. Em 2011 serão R$ 21 bilhões, verba impulsionada pela segunda fase do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
O novo ministro dos Transportes não pretende criar uma gestão específica para lidar com as obras ligadas à Copa do Mundo de 2014 e à Olimpíada de 2016, mas garantiu que irá acompanhar esses projetos com mais atenção.
Alfredo Nascimento retorna ao Ministério dos Transportes depois de ter deixado o cargo em março de 2010 para concorrer ao governo do Amazonas. Perdeu a disputa para Omar Aziz (PMN). A primeira vez que assumiu o posto foi em 2003, mas deixou a pasta em 2006 para concorrer ao Senado e foi eleito com a maior votação do Estado do Amazonas.
Nascimento tem formação em Letras e Matemática, com especialização em Administração de Empresas. Foi secretário da área econômica do governo do Amazonas várias vezes, além de vice-governador e senador.
FONTE: Valor Economico