segunda-feira, 19 de março de 2012

Os Correios tentam se reinventar

A Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) registrou lucro líquido de R$ 883 milhões em 2011, o mais alto de sua história, com aumento de 7,8% sobre o ano anterior. A estatal esteve muito perto de atingir o patamar de R$ 1 bilhão, mas a complementação de dividendos pagos ao Tesouro Nacional por exercícios anteriores e a greve recorde de 28 dias afetaram o resultado financeiro e tiraram cerca de R$ 230 milhões do lucro.

"Os serviços postais do mundo todo estão passando por uma transformação muito grande e tínhamos que saber se nos conformaríamos com essas mudanças ou nos reinventaríamos", diz o presidente da empresa, Wagner Pinheiro, que anunciará oficialmente o balanço da empresa em abril. "A decisão governamental foi a de olhar os Correios como uma empresa integradora, inclusiva e de classe mundial."

Pinheiro acabou de encaminhar, ao Ministério do Planejamento, um pedido para a abertura de mais 13 mil vagas no quadro de pessoal. Hoje a ECT tem quase 115 mil funcionários. Segundo ele, a ampliação é necessária por vários fatores como o aumento do número de encomendas - expressas e oriundas do comércio eletrônico - e o processo de urbanização de novas localidades, como consequência da ascensão de classes sociais mais baixas. Outra demanda nova é simbólica: graças à pacificação das favelas cariocas da Rocinha e do Vidigal, os Correios passaram também a subir os morros para entregar correspondências de porta em porta, o que só se fazia em cerca de 30% dos lares dessas comunidades.

Das novas vagas, a expectativa é de que entre três e quatro mil sejam preenchidas com cadastro reserva do concurso anterior, realizado no ano passado e com 9.160 funcionários já empossados. Isso ocorrerá para os cargos necessários e nas localidades possíveis, onde houver cadastro disponível. Outras nove a dez mil vagas devem ser preenchidas por novo concurso, com previsão de realização no segundo semestre, mas tudo isso depende ainda da resposta do departamento de coordenação das empresas estatais do Ministério do Planejamento.
Para evitar uma nova greve em 2012, construindo "um quadro ameno entre a empresa e as entidades representativas" dos trabalhadores, Pinheiro traçou uma linha de atuação. A Universidade dos Correios oferecerá 2,8 mil bolsas de estudo para formação de nível técnico, graduação e pós-graduação - com cursos à distância e em parcerias com instituições privadas de ensino. As discussões sobre a participação nos lucros e resultados começou antecipadamente. Além disso, os empregados terão um representante no conselho de administração, a partir do segundo semestre. E a empresa pretende reforçar o recrutamento interno para novas funções. "Isso cria um ambiente de trabalho que vai além do simples recebimento do salário no fim do mês", diz Pinheiro.

As metas da ECT para 2012 incluem a abertura ou a modernização de oito terminais de cargas. Pinheiro já conversou com os consórcios vencedores do recente leilão de aeroportos para negociar, quando os contratos de concessão forem assinados, a instalação de um terminal em Viracopos e a ampliação dos terminais de Guarulhos e de Brasília.

Um importante passo na universalização dos serviços postais será tomado, com a abertura de postos de atendimento em 39 localidades - algumas com apenas mil habitantes ou perto disso - que ainda não têm nenhuma presença física dos Correios, sobretudo no Norte e no Nordeste.

No Banco Postal, o serviço de correspondente bancário que saiu das mãos do Bradesco e está sob administração do Banco do Brasil desde 1º de janeiro, há uma meta de abrir 2,2 milhões de contas neste ano. Até 7 de março, o último dado disponível na ECT, 274 mil contas foram abertas.

Pinheiro garante que tem havido avanços em outros projetos anunciados por ele, no ano passado, como a internacionalização dos Correios. A Argentina, os Estados Unidos e os países de língua portuguesa são alvos da empresa. "Vamos pedir, à Apex, ajuda e apoio operacional para abrir o nosso primeiro escritório de representação no exterior", afirma.

A frota da ECT está sendo renovada, com a aquisição de 5.758 veículos novos, e parcerias com várias autarquias federais foram fechadas. Pinheiro cita a distribuição de 1,6 milhão de cartas por mês a pacientes do SUS, em convênio feito com o Ministério da Saúde, pedindo avaliações sobre o atendimento que receberam durante a internação.

Para Pinheiro, há uma série de mudanças em curso na gestão corporativa dos Correios, como o acompanhamento dos processos de auditoria - comuns diante da denúncias de corrupção e má administração da empresa nos últimos anos - diretamente pelo conselho de administração. O presidente executivo deixou de comandar também o conselho.

Criação de companhia aérea é descartada - Os Correios abriram mais seis rotas da Rede Postal Noturna e firmaram o primeiro contrato de 30 meses para o transporte aéreo de encomendas e correspondências, mas descartam a criação de uma subsidiária com aviões próprios para operar diretamente esse tipo de serviço. A ideia era frequentemente cogitada pela estatal, que tem amarras legais para fechar contratos longos com companhias aéreas de carga, e foi abandonada pela atual diretoria. "Nós descartamos completamente essa hipótese", afirma, com ênfase, o presidente dos Correios, Wagner Pinheiro.

Oito empresas prestam serviços no transporte de cargas: Rio e Total, que respondem por quase metade do total, e Amazonaves, Air Brasil, América do Sul, Fretax, Trip e TWO. O primeiro contrato com duração de 30 meses - antes eram 12 meses - foi assinado em novembro. O segundo já foi licitado. A intenção é buscar mais estabilidade no planejamento das cargas, sem o risco de interrupção súbita dos serviços.

No ano passado, a Rede Postal Noturna teve substituição de linhas que precisavam de ajustes quanto aos trechos atendidos e novas rotas necessárias para atender a demanda. Foram abertas as linhas Campo Grande-Brasília, Porto Alegre-São Paulo, Florianópolis-Curitiba-São Paulo, Rio Branco-Porto Velho, Belém-Brasília-Rio-São Paulo e Campo Grande-Goiânia-São Paulo.

No passado recente, houve uma sucessão de escândalos envolvendo empresas que faziam o transporte aéreo de cargas, como a Skymaster e a MTA, acusada de tráfico de influência na Casa Civil.
FONTE: Valor Econômico - SP