sexta-feira, 2 de julho de 2010

Setor de transportes teme falta de 130 mil motoristas em um ano

Depois de amargar a carência de infraestrutura, os transportadores enfrentam agora a falta de mão de obra. Entidades do setor projetam que terão dificuldades para preencher 130 mil novas vagas de motoristas a serem abertas em 2010. A conta reflete a demanda pelos profissionais com a venda estimada de 140 mil caminhões. No Rio Grande do Sul, entre 12 e 13 mil postos ficarão sem candidatos. Pior: o apagão deve marcar os próximos oito anos do setor, quando as aquisições de veículos poderão chegar a 1 milhão de unidades.
Desprestígio da profissão, acidentes e roubos de cargas e maior tecnologia embarcada que exige muito mais que apenas saber dirigir são citados como as grandes causas. A capacitação e formação de novos condutores para cargas não é hoje suficiente para responder à demanda. O presidente do Sindicato das Empresas de Transporte e Logística do Rio Grande do Sul (Setcergs), José Carlos Silvano, adverte que a conta é ainda maior se for computada a geração de vagas que cada caminhão abre. "São quatro postos para cada veículo, entre mecânicos e demais profissionais. Estamos tendo de buscar motorista aposentado para dirigir caminhão mais antigo para deslocar os mais novos para veículos modernos", exemplifica.
O alarme com a falta de pessoal foi acionado na abertura, ontem da 12ª Feira e Congresso de Transporte e Logística (Transpo-Sul), no Centro de Exposições da Federação das Indústrias do Estado (Fiergs), em Porto Alegre, que segue até amanhã. A carência de mão de obra foi colocada em igualdade de importância com as limitações de modais no País, entre elas a existência de apenas 196 mil quilômetros pavimentados entre os 1,1 milhão de quilômetros de rodovias existentes no Brasil. O presidente da Federação das Empresas de Logística e Transporte de Cargas do Estado (Fetransul), Paulo Vicente Caleffi, defendeu maior parceria com montadoras para melhorar a qualificação. Também apontou a informalidade na área como uma barreira à profissionalização. Estudo da consultoria Deloitte dimensionou que R$ 44 bilhões dos R$ 60 bilhões movimentados pelo setor anualmente estão no mercado sem registro.
Na Transportadora Minuano, com sede em Porto Alegre, o déficit de motoristas é de 10% a 15%. O sócio-diretor da empresa, Jaime Kras Borges, diz que há caminhões parados por falta de profissionais. A situação, segundo ele, agravou-se em 2010, devido à retomada do setor. A empresa deve ampliar em 20% a frota hoje de 152 caminhões, somando investimento de R$ 3 milhões. Com isso, o empresário já espera mais dificuldades. "Não adianta aumentar salário, que hoje vai de R$ 2 mil a R$ 2,5 mil. Os jovens não querem ser motoristas. Não existe mais a tradição de passar de pai para filho", lamenta.
O problema, adverte o presidente da seção de cargas da Confederação Nacional dos Transportes (CNT), Flávio Benatti, é que a formação de motoristas só pode ser feita nos Centros de Formação de Condutores (CFCs). O segmento tenta ampliar as frentes de capacitação, por meio da CNT, o Serviço Social do Transporte (Sest) e Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte (Senat). Sem maior oferta de mão de obra, ocorre redução da reciclagem de motoristas em atividade. "Como as empresas precisam transportar as cargas, não há tempo para treinar quem está trabalhando", observa Benatti. As entidades acreditam que é necessário reverter o que chamam de imagem negativa vinculada à profissão, associada a jornadas cansativas, uso de drogas, baixa remuneração, acidentes e infraestrutura de estradas muito deficiente. Está em estudo campanha institucional para melhorar a percepção da sociedade sobre a profissão e para reverter a resistência de novas gerações a assumir o comando do volante.

Tentativa de proibir caminhões em Porto Alegre ameaça segmento

A proposta de um vereador de Porto Alegre para restringir o trânsito de caminhões em alguns horários do dia, principalmente nos momentos de maior trânsito, provocou protesto na abertura da Transpo-Sul. O presidente do Porto Seco, Afrânio Rogério Kieling, alerta que cidades como São Paulo, onde se tentou a mesma medida, houve fracasso. "Lá a saída foi melhorar o trânsito e não tirar caminhões porque eles são mais visíveis", justificou Kieling.
Os dirigentes aproveitaram para cobrar a inserção do assunto no debate do planejamento urbano das cidades. "Se os caminhões são grandes, os ônibus também o são, mas se fala em proibi-los", devolveu José Carlos Silvano, presidente do Setcergs. A proposta foi apresentada pelo vereador André Carús, do PMDB, e proíbe o tráfego de caminhões em vias arteriais com até três faixas nos horários das 8h às 9h30min e das 17h30min às 19h.
Kieling aponta graves problemas no abastecimento de varejos e serviços. Citou que há shopping center e hotéis que não tiveram previsão de áreas específicas na implantação e que isso cabe ao município. "A ideia de restringir é simplória. Se proibir, vai faltar comida e vestuário para a população comprar. Em uma semana, a cidade para".
O setor aproveita a proposta para sugerir discussão das ações de planejamento da mobilidade urbana, mas não quer virar o vilão dos problemas.

Entidades ressaltam necessidade de renovação da frota nacional

A necessidade de renovar a frota brasileira de caminhões foi ressaltada, na tarde de ontem, durante palestra realizada no Congresso de Transporte e Logística da 12ª Transpo-Sul. No encontro, o Secretário Geral da Câmara Interamericana de Transportes (CIT), Paulo Caleffi, e o presidente da Seção de Cargas da Confederação Nacional dos Transportes (CNT), Flávio Benatti, destacaram experiências internacionais para a substituição de veículos antigos através de programas governamentais.
Com cerca de 1,4 milhões de unidades, a frota brasileira de caminhões recebe 140 mil novos veículos a cada ano. No entanto, poucos dos modelos antigos são retirados de circulação, o que faz com que a frota nacional seja considerada ultrapassada pelas entidades do setor de transportes. "Enquanto a idade média ideal para os caminhões em circulação é de cinco anos, no Brasil esse índice chega a 20 anos entre os motoristas autônomos", destacou Benatti.
O representante da CNT lembrou que, mesmo as empresas de transportes, que possuem maiores facilidades econômicas para renovar seus veículos, apresentam uma média de 11 anos de uso em suas frotas. Segundo Benatti, seria necessário retirar de circulação todos os caminhões com mais de 30 anos de utilização. Para isso, os compradores de caminhões novos receberiam concessões financeiras, em troca da entrega de seus veículos antigos.
A proposta é similar a políticas adotadas em outros países da América Latina, como México e Colômbia. "Lá, o governo abriu mão de impostos, barateando o valor dos caminhões novos, recebendo em troca dos motoristas seus caminhões velhos, que são transformados em sucata", explicou Caleffi. Entre os benefícios apontados para a renovação da frota está a diminuição da poluição, dos acidentes rodoviários, além de menores gastos. Segundo o presidente da CIT, um caminhão com 10 anos de uso consome 6% a mais de combustível que outro com cinco anos. "Essa é uma mudança que é possível de ser realizada no Brasil também, e que é extremamente necessária para nosso setor de transportes", concluiu.

Exames periódicos para motorista autônomo de caminhões.

A Comissão de Seguridade Social e Família (CSSF) da Câmara dos Deputados apreciará o Projeto de Lei (PL) nº 2.895/2008, de autoria do Dep. Barbosa Neto (PDT/PR), que dispõe sobre a obrigatoriedade de exames médicos periódicos para motoristas profissionais autônomos de caminhão. O relator, Dep. Manato (PDT/ES), apresentou parecer opinando pela aprovação do projeto com substitutivo.
FONTE: Jornal do Comercio

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