sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Preço do frete pode triplicar com estragos nas rodovias

Um dos setores mais sensíveis aos estragos causados pelos temporais, o segmento de transportes de cargas já coleciona prejuízo com a queda de encostas e a proliferação de crateras nas rodovias que cortam Minas Gerais.

“Em linha geral, o custo médio com manutenção de qualquer frota, no período em que não há chuvas, gira em torno de 6% (do frete). Contudo, na condição das atuais rodovias mineiras, o percentual pode até triplicar, chegando a 18% (do preço do carreto)”, calcula Ulisses Martins Cruz, secretário do Sindicato das Empresas de Transportes de Cargas do Estado (Setcemg-MG). Por enquanto, os empresários ainda não repassaram o aumento do custo aos contratantes. Mas os empresários alertam que não terão outra alternativa se São Pedro não fechar a torneira.

Resultado: o consumidor pode pagar a conta final. Isso porque enquanto a queda de barreira significa mais gasto com combustível, os buracos representam perigo a pneus, eixo e outras peças. “O preço médio de um pneu é R$ 1,6 mil”, explica Alfredo Gomes de Freitas Júnior, presidente da Cooperativa dos Transportadores Unidos, de Visconde do Rio Branco, na Zona da Mata, uma das cidades mais atingidas pelas chuvas. A entidade reúne 80 cooperados. Boa parte já teve transtorno com os últimos temporais.

Um dos caminhões do presidente da Unidos, conta, precisou percorrer um desvio de quase 150 quilômetros esta semana: “A carreta ia de Patrocínio para Viçosa, numa viagem de 640 quilômetros, e foi obrigada a desviar o itinerário em razão da queda de barreira”. Ele se refere ao deslizamento de terra na BR-356, próximo a Ouro Preto, que interrompeu o trânsito em ambos os sentidos. Até o início da noite dessa quarta-feira, segundo dados do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), o tráfego também havia sido interrompido na BR-354, na Região de Arcos, no Centro-Oeste mineiro, e na mesma 356, em Ervália, mas já na Zona da Mata.

Por sua vez, o Departamento de Estradas de Rodagem (DER) contabilizava nove trechos interditados na malha estadual. “O custo com desvios aumenta bastante. Ainda não aumentamos o preço do frete, porém, se continuar chovendo não teremos outra solução”, prevê Freitas Júnior.

Negociação - O secretário do Setcemg recomenda aos colegas do setor a renegociarem o preço do frete com os contratantes na hipótese de o trajeto aumentar bastante por causa de deslizamento de terras. E aproveita para criticar o estado das rodovias federais: “Veja o caso da BR-381, no trecho entre BH e João Monlevade, onde o asfalto chegou em 1957. De lá para cá, tivemos vários recapeamentos, mas de formas paliativas.”

Mas diversos outros defeitos nas pistas causados pela má manutenção e agravados pelas chuvas também prejudicam os empresários do setor. É o caso da quantidade de buracos ao longo das rodovias. “Pode danificar o sistema de mola. O desembolso, neste caso, é de R$ 800 a R$ 1 mil”, estima Delcídio José Júnior, presidente da Cooperativa de Transportes de Muriaé, na Zona da Mata, outro município bastante prejudicado pelas chuvas dos últimos dias. “Há 110 caminhões parados na cooperativa”, lamenta.

Empresários pedem medidas - A Federação das Associações Comerciais e Empresariais do Estado de Minas Gerais (Federaminas) pleiteou nessa quarta-feira ao governo de Minas adoção de medidas excepcionais em benefício das empresas que estão em municípios atingidos pelos temporais que castigam o estado. Entre as medidas solicitadas, está a prorrogação do prazo para recolhimento do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), bem como das datas de pagamento das contas relativas a serviços prestados pela Cemig e Copasa. Segundo a entidade, as tempestades dificultam as atividades dos estabelecimentos de comércio.

Personagem da notícia - Kênio Aparecido de Oliveira, caminhoneiro.

Quilômetros a mais até o destino

Os estragos nas rodovias mineiras causados pelas chuvas não prejudicam apenas os proprietários de transportadoras de cargas. Os longos desvios e os excessos de buracos também afetam o dia a dia dos caminhoneiros, que passam mais tempo nas estradas, convivendo com mais risco de acidentes. Nessa quarta-feira , o carreteiro Kênio Aparecido de Oliveira, de 39 anos, sentiu na pele o transtorno provocado pela queda de uma barreira na BR-356. Ele precisou percorrer 150 quilômetros a mais para chegar ao destino. “Saí de BH com destino a Mariana. São pouco mais de 100 quilômetros. Agora vou ter de dirigir muito mais. Tenho 15 anos de profissão e, com certeza, afirmo que a situação da malha viária em Minas é a pior que já vi”.
FONTE: Estado de Minas - MG

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