domingo, 7 de novembro de 2010

Demanda em alta e infraestrutura em baixa

Os índices econômicos brasileiros têm contribuído com o setor de transporte de cargas, mas falta de infraestrutura é contraditória ao cenário
Uma das causas apontadas pela Codesp (Companhia Docas do Estado de São Paulo) para o congestionamento no Porto de Santos é a alta da exportação de açúcar. Em 2009 foram 16,9 milhões de toneladas e, neste ano, a previsão é de 21,5 milhões Michele Stella
Agência BOM DIA
Falta de caminhões para o escoamento de mercadorias e aumento de 15% a 20% no preço dos fretes de transporte nos últimos dois meses.
Estas são as consequências dos problemas de infraestrutura enfrentados por empresários do segmento logístico desde o colapso no Porto de Santos - o aumento da demanda ocasionou congestionamento de caminhões e navios e o tempo de espera para carregar ou descarregar qualquer mercadoria no terminal tem variado entre três a quatro dias (não passava de seis horas antes do caos, que já dura mais de um mês).

- Leia mais: vendas de caminhões dobram em um ano

"O porto não tem infraestrutura que corresponde à sua representatividade. Sempre foi difícil, mas o cenário atual está mais conturbado do que nunca", avalia Felipe Mello, proprietário da Transportes Mello, empresa com sede em Santos e filial em Vinhedo.
Segundo o empresário, o problema imediatamente encarece toda a cadeia logística, seja para importação ou exportação de produtos. "A gente acaba repassando para os nossos clientes o custo do caminhão parado. Consequentemente, o consumidor também será afetado pelo aumento dos preços", explica.
Mercado aquecido
A alta da demanda no segmento de transportes é reflexo positivo do crescimento da economia. Mas no Brasil 93% de todo o transporte de cargas é feito por meio do modal rodoviário. Diante de um cenário como o atual, a falta de caminhões se torna outro agravante.
"Estamos tendo que negociar fretes mais altos com os caminhoneiros agregados para garantir o transporte", conta Mello, explicando que a empresa reavaliou o seu planejamento anual para apostar em ações estratégicas imediatas.
Para Luciano Rocha, presidente da ABEPL (Associação Brasileira de Empresas e Profissionais de Logística), o colapso na infraestrutura já era esperado. "Mais de 95% das riquezas importadas e exportadas pelo Brasil passam pelo Porto de Santos, que não tem capacidade para essa demanda", afirma, apontando a falta de investimentos em infraestrutura como empecilho para o crescimento de 7% almejado pelo governo brasileiro neste ano.
"Precisamos de ações de médio e longo prazo e de parcerias entre o poder público e a iniciativa privada. Se não, o Brasil vai parar", acredita Rocha.
Trabalho garantido
Para os empresários a falta de infraestrutura representa perda de competitividade e exige planejamento estratégico. Mas para caminhoneiros como Marco Antônio Andreazza, 52 anos, o cenário conturbado é sinônimo de oportunidade.
"Sou caminhoneiro há mais de 20 anos e acho que nunca tive um momento tão bom como o de agora", conta Andreazza, confirmando que os valores de frete subiram. "É a lei da oferta e da procura. A gente [caminhoneiros] não tem ficado sem serviço desde o final daquela crise [econômica], no ano passado", completa.
Em contrapartida, o tempo de viagem está mais longo pela dificuldade de carregamento ou descarregamento no porto. "Antes, uma viagem de São Paulo a Santos era feita no máximo em cinco horas. Com isso, fazíamos mais viagens por dia. Como isso não é mais possível, o frete tem que compensar o tempo perdido na fila", avalia o caminhoneiro.

Opinião
Luciano Rocha
Presidente da ABEPL (Associação Brasileira de Empresas e Profissionais de Logística)

Falta de infraestrutura
O que está acontecendo no Porto de Santos é o que a gente vem comentando desde 2007, mas o governo quer esperar para ver. O colapso já é realidade em terra e também no mar.
Um dos impactos é o não cumprimento dos contratos de entrega de produtos. O custo logístico das operações é outro. Ou seja, o transportador é penalizado, os caminhoneiros também, porque estão chegando a ficar uma semana dentro dos caminhões e, ainda, o aspecto econômico não pode ser desconsiderado - o consumidor certamente vai perceber o aumento do preço de vários produtos.
Somos um país rodoviarista, mas a nossa frota atual não é suficiente para atender a demanda. Em 2007, o país cresceu 5,7%. Em 2008, a crise econômica freou o crescimento. Neste ano, a expectativa é atingir os 7%, mas não temos suporte para isso.

Custos aumentam a partir de seis horas

De acordo com Felipe Mello, proprietário da Transportes Mello, entre tantas taxas a serem pagas pelos importadores e exportadores, ainda há aumento do valor de aluguel dos contêineres quando a estadia no Porto de Santos passa de seis horas. A adicional varia de US$ 50 a US$ 100 por dia.

1,4 mil

É o valor em reais de um frete de Santos a São Paulo com a demora para carregar ou descarregar no Porto de Santos. O frete dobrou.
FONTE: Rede Bom Dia

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