terça-feira, 19 de abril de 2011

Mercado aéreo brasileiro tem fôlego de sobra para continuar crescendo

É o que acredita o presidente Associação Brasileira das Empresas de Transporte Aéreo Regional (Abetar), Apostole Lazaro Chryssafidis. Ele conversou com a Agência CNT de Notícias, confira a entrevista.
O número de passageiros de avião mais que dobrou nos últimos oito anos no país. O mercado aéreo brasileiro, seja ele nacional ou regional, está aquecido e as empresas cada vez mais competitivas. No entanto, para acompanhar esse ritmo acelerado, é preciso investir em infraestrutura não apenas nos aeroportos dos grandes centros urbanos, mas também no interior.
Pensando nisso, a Abetar, em parceria com o Ministério do Turismo, realizou um estudo com 200 aeroportos para detalhar quais são as necessidades de investimentos. Esse e outros assuntos foram abordados na entrevista com o presidente da Associação, Apostole Lazaro Chryssafidis. Acompanhe.
Na semana passada, o Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea) divulgou estudo que afirma que nove aeroportos de cidades-sede da Copa do Mundo não ficarão prontos até 2014. No entanto, além dos grandes aeroportos, os de pequeno e médio porte também passam por reformas, há muita coisa a ser feita?
A Abetar e o Ministério do Turismo, por meio de um convênio, realizou um estudo com 200 aeroportos do país. Ele está em processo de revisão e será entregue ao governo em maio. O objetivo é mostrar quais são as necessidades de adequação desses aeroportos de baixa e de média intensidade, como os de Uberlândia, Uberaba, por exemplo, onde as empresas aéreas têm interesse de operar. Nós quantificamos em números, ou seja, oferecemos uma proposta para que o governo tenha isso em mãos e possa fazer os investimentos.
No nosso entendimento, não faltam recursos. Temos aí aquela velha história do programa federal de auxílio a aeroportos que, ano após ano, não aplica os recursos disponíveis. Fora isso, a presidente Dilma Rousseff, com clareza, transferiu a responsabilidade do programa federal para a nova Secretaria de Aviação Civil que, no nosso entendimento, vai dar muito mais agilidade à execução desse programa.
Por ano, o programa tem um orçamento de algo em torno de US$ 150 milhões. Achamos que deve ser feita uma remodelagem nele para que possa aceitar também emendas parlamentares. A partir disso, a gente estima que os recursos podem passar para US$ 600 milhões por ano. Para os aeroportos de média e baixa intensidade, esse valor é suficiente para que, em quatro anos, esses aeroportos estejam totalmente remodelados, cumprindo as exigências da Anac em termos de segurança.
Hoje, na verdade, estamos esperando o primeiro passo, que está sendo anunciado há pelo menos um ano e meio. Talvez com a nova secretaria essas questões sejam resolvidas. Pelo menos é o que a gente espera.
Por que focar o estudo da Abetar nos aeroportos menores?
Eles têm apresentado um crescimento exponencial. A aviação como um todo tem crescido, e especificamente a aviação regional tem registrado aumentos de movimentação de maneira bastante sensível, especialmente no interior do Brasil, onde nós temos a questão do agronegócio e a descentralização dos investimentos da indústria. Os investimentos mais significativos deverão ser feitos nas regiões Nordeste, Norte e Centro-Oeste. Isso é bom porque descentraliza os investimentos e torna as regiões mais igualitárias.

Os investimentos mais urgentes devem ser feitos, portanto, no Nordeste e Norte do país?
Sem sombra de dúvidas. Os aeroportos do Norte, da Região Amazônica, por exemplo, requerem investimentos urgentes por conta das exigências que a Anac colocou para o mercado. Se eles não se adequarem em termos de programa de combate a incêndio e questões de segurança, até 31 de dezembro deste ano, os aeroportos vão deixar de ter uma operação de transporte aéreo regular.
Em questão de número de passageiros, onde a demanda tem crescido de forma mais acelerada?
A demanda vem crescendo de uma forma equânime no país. Em certas regiões, como em algumas cidades do Centro-Oeste e do Nordeste, isso é bastante visível. É o caso de Maceió, por exemplo, que tem apresentado uma demanda fantástica. Até pouco tempo, as pessoas reclamavam que não havia voos de lá para Recife. Hoje há uma boa oferta. Logicamente, há uma concentração maior de passageiros onde você tem um número maior de habitantes, como é o caso do Sudeste. Mas, em termos de crescimento de demanda, o percentual em números absolutos é no Brasil inteiro.
O que é preciso fazer para melhorar e ampliar a aviação regional?
Além da questão de infraestrutura há a questão da disponibilização de financiamento e da redução de custo, e não só para o transporte aéreo, mas de maneira geral. O custo Brasil é muito elevado. A cobrança do ICMS de 25% sobre o combustível é um custo bastante alto para as empresas, basta considerar que o combustível consome até 40% dos recursos operacionais da empresa.
Alguns estados reduziram o ICMS recebendo, como contrapartida, a garantia de que as empresas atenderiam mais destinos dentro daquele estado, o que já tem sido feito. Há empresas que, em cinco anos, multiplicaram por dez o recolhimento do ICMS, o que foi benéfico tanto para as empresas como para o governo, que aumentou a arrecadação.
Nós temos um diálogo muito tranquilo com a Anac e demais órgãos do governo para poder contribuir, no sentido de solucionar os gargalos e as questões que possam inibir investimentos nas empresas e o crescimento do transporte aéreo regional.
No início do mês a Trip anunciou a venda de 30% de suas ações para a TAM. Para sobreviver no mercado, as empresas têm que se associar?
A tendência de associação é mundial. Não é uma questão de gostar ou não gostar. É uma questão estratégica e de redução de custo. Na aviação, como no transporte de maneira geral, é preciso ter densidade de tráfego. Quando você não tem essa densidade não há competitividade. Você não consegue reduzir custos e muito menos aumentar suas vendas. A associação das empresas regionais com as empresas maiores é uma tendência natural que a Abetar vê com muitos bons olhos.
Isso é bom porque você passa a atender o passageiro de uma forma mais intensa, o acompanha desde a saída de casa até o destino final, seja um destino nacional ou internacional. Isso só pode acontecer quando há essas associação, como é o caso da Trip com a TAM e da Passaredo com a Gol. Outro resultado é o aumento da concorrência no mercado, pois você passa a oferecer um serviço diferenciado para o passageiro.
Para a empresa aérea é ótimo, pois proporciona uma capilaridade muito maior. É possível dizer que a grande maioria dos destinos brasileiros são atendidos pelas empresas regionais. As grandes atendem aos grandes centros, além de um ou dois aeroportos de média intensidade. As regionais atendem aos de baixa, média e grande intensidade.

Analisando esses fatores, qual a avaliação que o senhor faz da aviação regional?
Eu diria que é uma mistura de otimismo com receio. Quando fundamos a Abetar, em 2002, as empresas tinham um marketing share (participação de mercado) de menos de 1%. Naquela época era mais difícil competir. Hoje essa realidade mudou. Temos empresas que estão no mercado e crescendo consideravelmente. Elas profissionalizaram sua gestão e contam com programas de investimentos bastante robustos. Com isso, hoje a participação de mercado ultrapassa os 6%.
Outro fator que nos dá otimismo é que o Brasil ainda tem poucas pessoas viajando de avião. O número de CPFs viajando é muito baixo. A gente estima que cerca de 15 a 20 milhões de CPFs viajam, o que é muito pouco num mercado de quase 200 milhões de habitantes. Isso nos leva a deduzir que o país ainda tem bastante fôlego para crescer. E se considerarmos que há cinco mil municípios no Brasil, e só cerca de 150 desses são atendidos por transporte aéreo regular, você percebe que há um espaço imenso para o crescimento do transporte aéreo. E isso nos dá força para investir no negócio.
Porém, a gente tem um certo receio de que as ações de governo permaneçam lentas. Desde 2005 apresentamos um crescimento expressivo e já naquela época alertávamos sobre a necessidade de investimentos em infraestrutura. Estamos em 2011 e continuamos com a mesma pauta. A presidente Dilma está sensível ao assunto, mas o governo não deve perder mais tempo.
FONTE: CNT

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