terça-feira, 2 de novembro de 2010

O desafio da logística

Qualquer que seja o vencedor na disputa presidencial deste domingo, terá um desafio prioritário: enfrentar definitivamente o chamado custo Brasil, que inclui estradas esburacadas, portos sucateados e aeroportos operando além do limite da capacidade. O desafio é tão grande quanto o problema, mas não deverá faltar recurso.
O orçamento do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) subirá 36,6%, entre 2010 e 2011, alcançando R$ 43,5 bilhões - o equivalente ao dobro do lucro da Petrobras no ano passado. Deste total, R$ 17,9 bilhões serão destinados à modernização de rodovias, portos, ferrovias, aeroportos e hidrovias.
Os investimentos vêm em boa hora. O esforço do governo em recuperar a defasagem da logística brasileira parte de um pressuposto básico no capitalismo moderno: se o Brasil pretende se tornar uma potência no cenário econômico mundial, precisa ter uma infraestrutura à altura de sua ambição.
Enquanto isso não acontece, as empresas estão trilhando seus próprios caminhos em busca da logística ideal. "O que faz a geladeira não ser geladeira é ela não estar na hora certa no lugar certo", compara Eduardo Cunha, especialista em logística da consultoria Accenture.
O BNDES já abriu os olhos para isso. A instituição avalia que, entre 2010 e 2014, cerca de R$ 850 bilhões serão investidos na economia brasileira, dos quais R$ 330 bilhões exclusivamente em logística - o maior volume de recursos já aplicados na história econômica do País.
No entanto, investir muito não significa investir o necessário. Para o consultor Eduardo Cunha, apesar da cifra recorde, muitos gargalos continuarão existindo entre quem produz e o consumidor final em razão dos contrastes estruturais entre as regiões do País.
Além de reduzir as disparidades de infraestrutura entre o Nordeste e o Sudeste, fatores como a carga tributária e a taxa de juros mais alta do mundo também despontam como desafios. "O Brasil é muito industrial e pouco comercial. Para darmos um salto, temos de seguir o caminho de Cingapura e do Chile, por exemplo, que têm uma alta base de serviços", diz Cunha.
Nem só de investimento depende o futuro da infraestrutura brasileira. O professor André Duarte, engenheiro de produção do Insper, de São Paulo, diz que o maior desafio da economia brasileira é integrar as cadeias de suprimentos, distribuição, custo, transporte e matéria-prima.
Ao analisar todas as empresas listadas no mercado de capital aberto brasileiro, Duarte constatou que, em 1997, 12% delas dispunham de uma diretoria de operações logísticas. Hoje, 40% delas já dispõem de um departamento logístico. O professor Duarte nota que a interligação entre as empresas no capitalismo moderno é que vai fazer com que cresçam. "Logística é, antes de mais nada, oportunidade e, dentre empresas, trata-se de identificar o fornecedor do fornecedor", diz ele.
A saga em busca da logística perfeita mistura inovação na distribuição de produtos por parte das empresas, agilidade na reforma das estruturas de portos e aeroportos por parte do setor público, e capacidade de driblar a eventual falta de investimento governamental em algumas áreas. Nas páginas a seguir, conheça os números do setor e saiba como grandes empresas estão vencendo o desafio.

Da fazenda ao porto

A Caramuru Alimentos S.A. é a principal empresa de capital nacional no processamento de soja, milho, girassol e canola. Industrializam grãos, promovem extração e refino de óleos, exportação de soja em grãos, farelo, óleo e lecitina, e produzem biodiesel. São responsáveis, por exemplo, pelas marcas Sinhá e Equivita.
A Caramuru é uma das líderes da América Latina na movimentação logística que sai de ferrovias, passa pela hidrovia Paranaíba-Tietê-Paraná, bate no porto de Santos e depois de 45 anos de atividade tem muito a ensinar em logística. Fundada em 1964, em Maringá, no Paraná, a empresa deu um salto nas décadas de 80 e 90, fincando os pés em Goiás, com 65 armazéns gerais distribuídos neste Estado, Mato Grosso e Paraná, com capacidade de 2,1 milhões de toneladas.
Em dezembro de 1998, implantaram o Sistema de Gestão Integrada, voltado à logística. Em 1995, investiram 27 milhões em uma fábrica de processamento de soja em São Simão, em Goiás, que, às margens do rio Paranaíba, processa 1,8 mil toneladas de soja ao dia, 500 toneladas mensais de lecitina de soja e três mil kW de geração de energia elétrica por hora.
Toda a produção advinda desse complexo é escoada pela hidrovia Paranaíba-Tietê-Paraná, até chegar ao porto de Santos e dali para países asiáticos. Foi a partir de 1999 que a Caramuru fincou os pés na logística de exportação. Foi aplicado US$ 1 milhão na construção de um terminal hidroferroviário em Pederneiras, no interior de São Paulo, com a capacidade de armazenar 60 mil toneladas de produtos.
Também em 1999, foram investidos no porto de Santos, a 60 km da capital paulista, US$ 4 milhões num armazém com capacidade de 65 mil toneladas. O investimento da logística fez da Caramuru um gigante latino-americano: já podem processar 1,5 milhão de toneladas de soja por ano, 677 mil toneladas de milho, e refinar 230 mil toneladas de óleos de soja, milho, girassol e canola.
Os números são impressionantes: faturamento de R$ 2,1 bilhões em 2009, exportação, no mesmo ano, de US$ 462 milhões, e faturamento previsto, para 2010, de R$ 2,3 bilhões. "O nosso crescimento se deve ao domínio completo da cadeia de logística, desde a produção até o porto", diz César Borges de Souza, vice-presidente da Caramuru.

O diagnóstico está pronto

O diagnóstico dos problemas enfrentados pelo Brasil no setor logístico já foi feito pela Confederação Nacional dos Transportes. O Plano CNT de Logística corresponde a um conjunto de propostas de projetos de adequação, construção e recuperação da infraestrutura de transportes.
Foram priorizadas a intermodalidade, a conexão com os países da América Latina, a acessibilidade aos pontos de exportação da economia brasileira e a integração entre as zonas de produção e de consumo interno. Todas as propostas de projetos têm como objetivo oferecer melhores serviços aos operadores de transporte, aumentar a qualidade do serviço prestado aos usuários, diminuir custos empresariais, bem como a emissão de poluentes.
O plano é didático: sustenta que a demanda por bens movimenta a cadeia produtiva, que vai desde a obtenção de matéria-prima até o consumo, passando pela produção e comercialização. Nesse contexto, a logística representa o processo de planejamento, operação e controle do fluxo de produtos, por meio do uso intenso de informações, de modo a oferecer a exata quantidade de mercadorias a custos mínimos nos locais e períodos definidos.
De acordo com outro estudo, feito pela Coppead/UFRJ, os custos logísticos no Brasil são próximos a 12,6% do PIB, ou R$ 380 bilhões. O item de maior representatividade foi o transporte, com 7,5% do PIB. Nos Estados Unidos, os custos logísticos representam 8,6% do PIB, ou seja, R$ 2,64 trilhões. O custo de transporte representou 5% do custo logístico total.
No transporte rodoviário, diz a CNT, "verifica-se grande incidência de casos de rodovias em precárias condições de conservação e funcionalidade, o que aumenta a quebra mecânica dos veículos e ocasiona graves acidentes com elevado número de vítimas. A idade média da frota no transporte rodoviário é muito elevada, fato que contribui para uma grande emissão de poluentes". Quando falam do transporte marítimo, sustentam que "os portos vêm enfrentando problemas relacionados ao impacto e à pressão da urbanização sobre essa infraestrutura. Há ainda dificuldades na acessibilidade de veículos terrestres à área portuária.
FONTE: Revista Istoé Dinheiro

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