sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Logística interna avança no combate a perdas

Com previsão de reduzir até 20% dos custos operacionais dos centros de distribuição, o setor de intralogística, ou logística interna, que consiste em operação, manuseio e otimização de espaços e cargas dentro das empresas, está otimista com a conscientização do empresariado brasileiro da importância deste nicho para o futuro dos negócios.
Para Reinaldo Moura, fundador do Grupo Imam, que congrega empresas e profissionais relacionados à intralogística, essa ferramenta pode otimizar as perdas geradas pela má estruturação da logística externa, cuja infraestrutura apresenta sérios gargalos. De acordo com ele, a palavra de ordem agora é planejamento.
Acompanhe a entrevista exclusiva do fundador da Imam, Reinaldo Moura, realizada pelos jornalistas Roberto Müller, na companhia do editor-chefe do jornal DCI, Theo Carnier, e de Milton Paes, da rádio Nova Brasil FM.
Roberto Müller: O que é intralogística e por que se afirma que ela pode minimizar custos de movimentação e transporte em um país com as dimensões do Brasil?
Reinaldo Moura: A intralogística é uma parte da logística: a que se refere à área da portaria para dentro. Então ela é todo o processo que visa à transformação de matérias primas em produtos acabados, tal qual a distribuição desses produtos acabados ao mercado.
Assim, o termo "intralogística", é usado apenas para que não se faça confusão com transporte, tanto na infraestrutura portuária quanto na aeroportuária, pois o termo "logística" é utilizado para definir o lado externo.
Milton Paes: Então a intralogística é responsável por normas e procedimentos técnicos adotados dentro da empresa, visando à saída da carga aos centros de distribuição? Reinaldo Moura: A intralogística começa com o descarregamento de um veículo e termina com o carregamento de outro meio de transporte, seja ferroviário, seja rodoviário, portuário ou aeroportuário, finalizando o ciclo.
Theo Carnier: Em que setores a intralogística tem uma atuação mais forte? Em indústrias?
Reinaldo Moura: Em indústrias e centros de distribuição, que é o local onde se armazenam produtos para exportação ou para importação, ou até mesmo para abastecimento do mercado interno.
Theo Carnier: No caso de uma montadora de veículos, a intralogística abrange da chegada das autopeças à saída do carro. Ela trata também da movimentação desses materiais dentro da montadora?
Reinaldo Moura: Sim, como se movimenta, como se estoca, como se controla, pois é necessário um sistema de estocagem que diga a quantidade do estoque, em que local está a mercadoria, além de um item muito importante que não podemos esquecer: a condição a que essas peças serão submetidas para que não sofram choques com outras peças. Todas essas atividades fazem parte do trabalho da intralogística, que acompanha posteriormente todo o processo logístico até o consumidor final.
Milton Paes: O Brasil está atualmente em uma situação de amplo crescimento, e com isso surgem algumas preocupações do mercado sobre infraestrutura. Muitos dizem que o governo irá segurar o crescimento acelerado em função desses problemas. Sabemos que a infraestrutura necessita de um planejamento para 10 anos, que nada se resolve de um ano para outro, nem em questão de meses.
Percebemos que com a proximidade da Copa do Mundo de 2014, que acontecerá no Brasil, existe uma grande preocupação em relação a esta questão, principalmente na infraestrutura aeroportuária, e imagino que o setor logístico tem uma grande preocupação, pois a realização de um evento como esse irá movimentar toda a economia brasileira. Quais são os principais pontos de preocupação, e como o setor está se organizando para superar as dificuldades que irão surgir?
Reinaldo Moura: Você colocou uma palavra-chave em tudo isso, que é o planejamento. A logística não é a causa, é uma consequência, ou seja, é um efeito. Então quando analisamos para saber onde devemos melhorar a infraestrutura, é necessário ver o todo. E o que houve neste país nas últimas décadas? Houve ações isoladas, independentes e localizadas, que para determinados estados são soluções de primeiro mundo, mas para outros não são tão boas assim.
Vivemos atualmente um dilema; o que falta a todos os responsáveis é sentarem-se à mesa e discutir planos para o futuro: dizer quanto queremos crescer e para onde estamos rumando. Com isso a iniciativa privada pode fazer investimentos, como aconteceu nos últimos anos, e planos que sejam atrativos para os empresários.
Então estamos em uma situação que se assemelha a um beco sem saída, pois existem ações isoladas, mas não há uma visão do todo, criando-se assim gargalos em vários segmentos.
Roberto Müller: E com que a intralogística pode contribuir para pôr ordem em toda essa confusão?
Reinaldo Moura: Devido a toda essa ineficiência que temos na logística externa, ou melhor, da porta para fora das empresas, a intralogística antecipa a aquisição de matérias primas, e busca estocar, movimentar e controlar esses materiais para evitar um desabastecimento.
Vimos recentemente, em publicações da mídia, que os aeroportos não têm áreas de estocagem internas, isso é sinal de um período que teremos -a partir de outubro, conhecido como final de ano, que começa com o Dia da Criança e vai até o Natal- em que as empresas, para não sofrerem com a escassez de determinadas matérias primas, estão antecipando todos esses materiais importados para manterem as suas linhas de montagem em pleno funcionamento, e garantir o abastecimento para o consumidor nesse período tipicamente sazonal que é o fim de ano.
Então o que a intralogística faz com seus planejadores é antever, pois o mercado está em crescimento. Há uma demanda ainda maior com o segundo semestre, então vamos importar, vamos fabricar, vamos comprar, pelo momento favorável.
Este é o lado bom, e significa que a maior parte dos consumidores encontrará os produtos nas prateleiras; mas por outro lado tem o custo, e alguém pagará por isso, porque ao invés de esse empresário aplicar esses recursos em outras atividades, ele está investindo em armazéns, depósitos, em materiais, ou ele importou esse material porque com a variação do clima nas semanas anteriores as mercadorias que estavam no pátio dele foram danificadas, e com isso vêm as perdas. Logo ele acionará a companhia de seguros, e até o reembolso e as novas compras, o prejuízo pode ser maior.
Milton Paes: Você concorda com que toda empresa se planeja, e, mesmo tendo essa demanda maior em decorrência destas datas, acredito que em determinados segmentos, existe a percepção de que existem tipos de matérias primas que não podem ficar tanto tempo estocadas. Será que mesmo com a questão do seguro, alguns setores empresariais ainda pecam neste sentido?
Reinaldo Moura: Nós temos dois grupos de materiais, os perecíveis e os não-perecíveis. Os não-perecíveis podem suportar essa estocagem por um tempo maior. Entretanto, os perecíveis necessitam de proteção, precisamos dar-lhes um condicionamento e climatizá-los, principalmente os alimentícios que possuem data de validade, ou as matérias primas para a indústria farmacêutica, ou a nossa safra, que exportamos.
Todos esses produtos são perecíveis: entre o ato de carregar esses materiais em um silo na fazenda e o de levá-los até o porto, o espaço de tempo que se tem é curto, porque o material precisa ser preservado para entrar no porão do navio, e, no destino de chegada, ele ser recebido em condições de ser manufaturado. Aí é que entra a questão de custo, que as empresas acabam pagando para fazer a proteção destes materiais, para reduzir as perdas.
E é aí que está a queixa dos empresários, e eles têm razão: falta infraestrutura, pois um dia de atraso, e, em alguns casos, horas de atraso para descarregar ou carregar, o prejuízo é enorme. E em muitos casos a companhia de seguro não reembolsa, pois não se trata de uma avaria ou de um acidente: trata-se de uma ineficiência que aquele modal logístico escolhido para realizar aquela exportação ou importação, teve.
Theo Carnier: O senhor acredita que a conscientização -e a consequente adoção da logística interna- está evoluindo a uma boa velocidade? Durante a realização recente da feira Movimat, que vocês organizaram, foi possível verificar essa conscientização?
Reinaldo Moura: Temos dois aspectos: o primeiro são as empresas que escolhem fazer sozinhas o recebimento, a estocagem, a movimentação e armazenagem desses produtos. As grandes empresas, principalmente as multinacionais já trouxeram e trazem equipamentos, e estão atualizadas em termos tecnológicos.
Vemos no Brasil um crescimento, nos últimos 10 anos, do chamado "operador logístico", que não é a principal atividade das empresas, é realizado por uma empresa de logística, especializada nisso.
Ao longo das nossas rodovias e dos grandes polos, vemos muitas construções de condomínios logísticos, onde existem armazéns, conhecidos como centros de distribuição (CD): eles vêm para compensar toda essa dificuldade e ineficiência que existe na indústria.
Esses centros de distribuição, por terem nascido nos últimos cinco anos, trazem consigo uma tecnologia de primeiro mundo; então estamos atualizados, temos armazéns com transelevadores, temos sistemas com paletizadores automáticos, veículos automaticamente guiados, empilhadeiras eletrônicas. Então a feira serviu para mostrar isso tudo, com equipamentos feitos para superar a ineficiência que existe na logística externa.
Milton Paes: Existe um grande questionamento em vários segmentos sobre a malha rodoviária do Estado de São Paulo. Indiscutivelmente ela é a melhor do Brasil, mas o que se questiona muito, e tem sido alvo de muita discussão, é a questão do modelo de concessão das rodovias, principalmente no que diz respeito ao valor cobrado nos pedágios.
A questão é que sabemos que, no caso logístico, um caminhão paga pedágio por eixo; logo, uma operação somente no estado paulista possui custos bem altos, consequentemente esse custo é passado para alguém, e no final das contas o consumidor é quem paga a conta.
Você acha que seria interessante que dentro do Estado de São Paulo, já que a revisão do valor dos pedágios é praticamente impossível, existisse um incentivo tributário para as empresas logísticas? Pois sabemos que o governo paulista promoveu uma série de reduções de imposto, que facilitaram muito a operação de muitas empresas. O que você acha dessa questão?
Reinaldo Moura: Receio que isso irá apenas acirrar a questão da guerra fiscal existente entre os estados, onde em algumas situações há uma logística turística. Porque a carga carregada no Estado de São Paulo cruza a fronteira do estado vizinho, onde troca-se a documentação, e retorna para obter os incentivos fiscais, ou tributários, que não resolvem nosso problema, porque há mais desgaste dos caminhões e das estradas e mais congestionamentos.
Então esse modelo que existe atualmente de cobrança de pedágio, que é fruto de uma década ou duas de privatizações, ou qualquer mudança, significará incentivos que beneficiarão somente alguns setores e prejudicarão outros, ou um estado ou outro, durante o período transitório.
Acredito que depois de um tempo esse modelo das privatizações necessitará de uma revisão, pois ele não é um modelo que agrega equilíbrio para as partes envolvidas. Para isso é só analisar os modelos recentes da privatização da Fernão Dias, onde o valor é muito inferior ao valor cobrado nas privatizações de dez anos atrás. Mas não creio que com incentivos fiscais isso seja resolvido.
Roberto Müller: Ouvindo a sua explicação sobre o setor de intralogística no Brasil, e sobre as dificuldades do setor, fica a impressão de que a intralogística é uma atividade que só traz custos e não agrega valor ao produto. Isso é verdade?
Reinaldo Moura: Existem duas respostas para isso, se analisarmos a intralogística, que é o resultado do deslocamento de um material, quanto mais longe do outro for colocado um equipamento, mais recursos serão necessários.
Então neste caso, sim, existirá uma perda, ou melhor, não agregará valor, somente custos. E qualquer economia que você faça em aproximar esses dois equipamentos, só traz benefícios.
Daí para a frente, pode-se dizer que estocar um excesso de matéria prima só vai encarecer, ou um excesso de controles também; enfim, a sua análise está correta. Lá atrás, nos primórdios da engenharia industrial, esse assunto já era citado. O que é necessário é reduzir as perdas.
Theo Carnier: Quais são as áreas, dentro de uma empresa, em que a intralogística mais interage: é com o financeiro, é com a produção, é com o marketing ou é tudo junto?
Reinaldo Moura: Em todas as atividades. Começa com a portaria, depois os recursos humanos, segurança, higiene de trabalho, com suprimentos, com a contabilidade, porque toda essa documentação precisa de um registro, a parte de sistemas, enfim, todas as áreas da empresa dependem da intralogística. Então por isso ela visa à integração necessária entre todos.
Roberto Müller: Gostaria que o senhor fizesse uma avaliação da feira que acabou de acontecer em São Paulo: qual a perspectiva para o futuro em um país com os problemas do Brasil? Gostaria de saber também se essa consciência da importância da intralogística já é uma realidade para boa parte do empresariado brasileiro.
Reinaldo Moura: A feira mostrou aos visitantes -aos quase 30 mil que foram ao evento- todo o estado-da-arte dos equipamentos em termos de soluções. Mostramos equipamentos que estão prontos, no depósito dessas empresas, para serem fornecidos.
Mas a feira gerou também muitos projetos, pois certas instalações, em termos de movimentação de material, necessitam da ida ao cliente, a criação de um diagnostico, um estudo, um projeto, da apresentação de um orçamento, para que o cliente coloque esse projeto em seus planos para daqui a um ano ou mais. Então o resultado da feira não é imediato.
Os equipamentos mostraram ao empresariado um despertar, porque as grandes empresas, principalmente as multinacionais, já conhecem essas técnicas e já trazem seus projetos, mas nós temos os pequenos e médios -e por que não dizer os microempresários- que utilizam muito a mão de obra.
Ainda é possível entrar em um estabelecimento onde as mercadorias estão empilhadas ao nível do chão: não há uma estante sequer, nem uma prateleira, o que inclusive estraga o material. Então para o pequeno e médio empresário a feira é muito importante, porque ela desperta o interesse dele, em termos de mecanizar, automatizar, e melhor aproveitar o seu espaço, ao invés de construir mais um "puxadinho", para esparramar o material. Na feira é possível comprar equipamentos novos ou usados.
FONTE: DCI - SP

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