quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Michelin quer novo modelo de venda para o cliente final

A Michelin, a multinacional francesa dos pneus, manteve, apesar da crise, a estratégia de crescimento para suas operações na América do Sul, em especial no Brasil. O planejamento da empresa para a região apoia-se em investimentos maciços em inovação de produtos adaptados às necessidades locais e em chegar ao cliente final por meio da distribuição, disse o americano Pete Selleck, diretor mundial de pneus de carga da Michelin.
Em entrevista ao Valor, Selleck afirmou que a empresa tenta mudar o modelo de venda de pneus para caminhões novos adotado pelas montadoras no Brasil. Ele afirmou que um dos problemas que a empresa gostaria de resolver no mercado brasileiro está no fato de que o cliente que vai comprar um caminhão novo não tem a opção de "especificar" o tipo de pneu que gostaria de usar. "Acreditamos que é um erro, porque não oferece oportunidade da escolha ao cliente", afirmou Selleck em conversa na sede da empresa, no Rio.
O executivo informou que a empresa vem discutindo o assunto com grandes fabricantes de caminhões com os quais tem relação em outras partes do mundo. Nos Estados Unidos e na Europa, a empresa de transporte que compra um caminhão novo pode escolher o pneu, comparou. "Não entendemos a relutância (de adotar prática semelhante) no Brasil", disse Selleck. Nour Bouhassoun, diretor comercial de pneus de carga da Michelin para América do Sul e Caribe, disse que no mercado de reposição brasileiro existe a opção de o cliente escolher o pneu, mas não na primeira venda (para caminhões novos).
Segundo Bouhassoun, os fabricantes dos semireboques (carretas) permitem a escolha dos pneus pelos clientes. "Os que não permitem são os fabricantes dos cavalos mecânicos", afirmou. Procuradas para falar sobre o assunto, Man Latin America, que detém a marca Volkswagen, Scania e Volvo não se posicionaram. A Ford enviou declaração de Oswaldo Jardim, diretor de operações de caminhões para a América do Sul, segundo o qual a empresa oferece toda a linha de caminhões Cargo aos clientes, no mercado nacional, com três opções de marcas de pneus, sendo a Michelin uma delas. Uma fonte do setor disse que as montadoras privilegiam o preço de compra dos pneus. Outra fonte afirmou que os pneus Michelin custam mais caro do que os pneus da concorrência mas têm maior durabilidade.
Selleck reiterou que a empresa mantém o plano de investir US$ 1 bilhão no Brasil no período 2006-2011 para ampliar a capacidade instalada de produção. Ele disse que os investimentos incluem a construção de nova fábrica de pneus de passeio, em Itatiaia (RJ), e a expansão da unidade de produção de pneus de carga no bairro de Campo Grande, zona oeste do Rio, que deve demandar US$ 100 milhões. A previsão de crescimento na fabricação de caminhões no mercado brasileiro, em horizonte de longo prazo, é um fator que justifica os investimentos, disse Selleck.
Outra razão está na necessidade de substituir importações de pneus feitas de outras fábricas do grupo, como é o caso da Europa, e que têm alto custo logístico. "Há que se investir para tornar a operação da América do Sul autosuficiente", disse Selleck. Nos pneus de carga, o conceito da Michelin é trabalhar com fábricas que tenham capacidade de produzir 2 milhões de pneus por ano. O plano é ter seis plantas como essa no mundo. A unidade de Campo Grande, no Rio, deve atingir esse nível.
Além do Brasil, a Michelin investe em novas capacidades para produção de pneus de carga na China e na Índia (neste caso trata-se da primeira fábrica da empresa no país. O primeiro pneu Michelin deve ser produzido na Índia em 2012). "O fator mais importante na hora de decidir por investimento em um novo mercado é a visão do transporte daqui a 20 ou 30 anos", disse Selleck. O conceito leva a empresa fazer grandes investimentos no Brasil, Índia e China.
Selleck mostrou um otimismo cauteloso com a recuperação da economia global no período pós-crise. "O negócio de pneus de carga está em melhor situação do que estava na primeira metade do ano", disse. Segundo ele, houve recuperação no mercado mundial de reposição, que representa 85% das vendas de pneus de carga da Michelin, embora a operação ainda esteja abaixo do normal. Já na primeira venda, responsável pelos outros 15% do mercado, é mais difícil prever a retomada.
"Houve uma queda muito forte (em termos globais) no mercado de primeira venda (para caminhões novos)", informou Selleck. Neste segmento, as vendas caíram cerca de um terço na primeira metade do ano em relação ao pico na maioria dos mercados, disse o executivo. A redução nas vendas foi determinada pelo declínio da atividade de transporte, desestocagem nas revendas e "canibalização" da frota parada (uso de pneus dos caminhões parados nos que estavam rodando). Na América do Sul, a queda nas vendas foi de cerca de 25% em relação ao primeiro semestre de 2008.
Fonte: Valor Economico.

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